quinta-feira, 3 de julho de 2008

Sincera explicação

Meu querido João,
Penso que talvez te deva uma explicação para a minha ausência.
Não é minha intenção ser desagradável para contigo, não quero ódio nem desgosto. Mas a verdade é que magoas-me. E enquanto eu procurava algum apoio em ti, só encontrava expectactivas falhadas. Não sinto grande conforto nem alívio quando falo contigo, não sinto amizade, atenção, dedicação. Sinto uma pequena frieza, um certo orgulho, algum fingimento, uma distância, e isso traduz-se tudo em desilusão, porque espero certas atitudes da tua parte, certas palavras da tua boca, e elas não vêm. E isso deixa-me insegura, e de certo modo com medo e até alguma raiva.
Talvez não saibas do quanto eu preciso de ti agora. Fazes-me falta como amigo. Eu não tenho estado bem, surgiram-me alguns problemas, e estou cheia de preocupaçoes. Estou aterrorizada. E preciso de apoio. Finjo estar bem, finjo sorrir e fazer as pessoas mais próximas de mim também sorrirem, mas faz também falta ter aquelas pessoas com quem pudemos ser realmente quem somos e estar como realmente estamos, falar realmente do que nos preocupa, sem medos, sem vergonhas. E tu encaixavas nesse lugar. Mas em vez disso, tornaste-te em mais uma preocupação e eu não preciso disso neste momento. Não preciso de mais preocupações...
E era isso que me davas: mais uma preocupação. Para não falar da desilusão. E estou frágil, não me sentia capaz de te explicar com as palavras mais acertadas, porque íamos estar a fugir ao teor do assunto. Não queria dar a entender algo que não era verdade. E talvez assim seja a melhor maneira, escrevo com calma e com tempo, e exponho aquilo que realmente sinto.
Agradeço teres me telefonado. Eu de facto vi te a telefonar. Estive com o telemovel na mão... Mas não atendi por uma simples razão: não me pareceu a altura apropriada. Eu estava meia ensonada e não te ia dizer as coisas que queria dizer, e íamos acabar por talvez arranjar outro mal entendido sem necessidade nenhuma. Mas se tivesses telefonado depois, teria atendido.
Custa-me afastar-te. E acredita que não queria, mas tu não me dás outra escolha.
Não te quero esquecer, nunca hás de sair de mim, foste desmasiado importante para eu desprezar tudo o que alguma vez tivemos. Não faço isso. Todos os dias penso em ti, recordo-te, ainda me és tão estimado. Faço para que seja assim.
E não encaro isto como eu ter desistido da nossa amizade, ou de uma amizade que poderíamos ter tido, porque eu estive dois meses à espera, à espera de uma mensagem tua, à espera da tua atenção, da tua amizade. E um dia, tu decidiste, 'é hoje que lhe falo': como se tudo girasse à tua volta. Sabias lá tu o que era melhor para mim. E desde desse momento que sinto que fingimos ser amigos, fingimos que está tudo bem. E isso para mim é tudo uma farsa.
Sabes o que eu sou. Sabes o que sou capaz de dar, sabes que ponho os meus amigos em primeiro lugar, que faço tudo para ajudar quem precisa, oiço a qualquer hora, tenho paciência para isso, ajudo no que posso. Sabes disso. E sabes que o que eu mais queria era ter uma amizade contigo, manter-te sempre perto de mim, porque acima de amor eras meu amigo, e como amigo eras indispensável.
Mas parece que desapareceu. Tens a tua vida agora, não te preocupes comigo.
Não sei se era disto que estavas à espera, mas João, pergunta-te o que é que te importa? Importa-te falar comigo? Importa-te saberes de mim, da minha vida? Importa-te teres me como amiga? Importa-te seres meu amigo? Porque é que me telefonaste: apenas para me confrontar e saber porque não te falava, ou para tentar também fazer-me voltar porque tinhas saudades? Tens de começar a pensar nas coisas que fazes e que dizes porque, ao contrário do que pensas, elas têm um grande efeito em mim, pelo menos. Compreende o que fazes e porque o fazes. E se te importa isso tudo, se te faz diferença falar comigo, teres-me como tua amiga, saberes o que se passa comigo, seres tu meu amigo, então talvez devesses pensar mais um pouco nisto tudo. Se não te importa, vens a comprovar tudo o que expliquei em cima, não vale a pena.
Peço desculpa pelo desprezo, não é a melhor atitude, mas não encontro outra maneira de fazer as coisas. E talvez se não te tivesse desprezado não terias te apercebido que se passa algo. Garanto-te João, passa-se mesmo algo. E nós, tu e eu, somos a menor das minhas preocupações. Sempre me disseste: sinceridade acima de tudo; e eis aqui a sinceridade.
Espero que tenhas percebido o que te escrevi. E se algo não ficou esclarecido, podes te atrever a perguntar-me, porque acima de isto tudo, sou amiga e pessoa.
Um grande beijo, adoro-te.

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